Podemos imaginar o Hermetismo como algo muito distante de nos, tanto no tempo como geograficamente. Este raciocínio muitas vezes se revela uma falácia, não só no que tange ao hermetismo, mas mesmo os outros componentes da tradição ocidental.Estamos mais acostumados a assimilar os postulados norte americanos, sem procurar muitas vezes outras fontes, e pior, as nossas origens. Não há duvida que o ocultismo teve e tem enormes expoentes no mundo de língua inglesa (notadamente a Inglaterra, sem com isso menosprezar os USA). Há uma matéria da antropóloga Liana Salvia Trindade que consta da revista imaginário sob o titulo Convergência e Conflitos de Interpretação do Real.

A matéria trata da festa de Corpus Christi, realizada em São Paulo a 24 de maio de 1733. Nesta cerimonia “cristã” surgem elementos pagãos e herméticos. Para termos uma idéia do que aconteceu nela primeiramente surge o vidente Tirésias que revela o destino da cidade de São Paulo. Caso o leitor não se recorde Tiresias foi o vidente da cidade de Tebas. Após a sua morte foi invocado através da Necromancia por Ulisses.

Uma vala foi repleta de sangue , desta forma os espectros dos mortos vieram beber o sangue fresco. Após algum tempo Tiresias surge, bebe do sangue, e mostra o futuro de Ulisses.Como se não bastasse este elemento extremamente pagão a cerimonia continua, na sequência surge a serpente do jardim do Éden, os sete planetas( Saturno, Júpiter, Marte, Sol, Vênus, Mercúrio e Lua)e ninfas. A festa prossegue com a junção de elementos cristãos, pagãos e multi-culturais advindos da cultura popular e de outros povos.

A antropóloga Liana Salvia Trindade fala: “As cenas bíblicas, acompanhadas de divindades gregas e romanas, indicam a permanência dos mitos pagãos no cristianismo. As figuras dos sete planetas evocam as representações renascentistas do hermetismo de Ficino e Agrippa, proclamando a legitimidade da magia natural dos astros e arcanos. Este pensamento seiscentista europeu, que conjugara concepções filosóficas do hermetismo com os componentes míticos hebraico-cristãos e grego-romanos, está presente no imaginário barroco brasileiro”.

No mesmo artigo é demonstrada a influencia do estudo do hermetismo na cidade de São Paulo. O estudo de autores como Mirandola e Ficino era estimulado nas escolas Jesuíticas. Nos dias de hoje o Hermetismo continua presente na cidade de São Paulo e em grande parte (para não dizer todo) do Brasil. Há o renascimento do Magicko, hermético e oculto, ordens como a Rosa Cruz, Maçonaria, Golden Dawn, dentre varias outras estão em atividade, somando-se a elas vários estudiosos e praticantes solitários. Este resgate das tradições é extremamente relevante em um pais como o Brasil, onde encontraremos pessoas vindas de todas as partes do globo, transformando o pais em um solo fértil para o hermetismo e outras manifestações Magickas.

Para situar o leitor que por um acaso nunca ouviu falar de hermetismo, e já foi colhido por mim neste turbilhão de informações, o hermetismo é um corpo de conhecimentos passados pelo deus egípcio Thoth, Hermes Trismegistos para os gregos, remontando a mais longínqua antiguidade egípcia.

Na verdade o hermetismo nasce da confluência entre a cultura grega e a egípcia, somando-se ainda inúmeras outras. Através das conquistas de Alexandre o Grande , e posteriormente do império Romano, as cidades mediterrâneas do norte da África eram grandes pólos culturais Influencias zoroastrianas, cabalísticas, Mesopotamicas dentre varias outras se faziam presentes, além das egípcias e gregas é claro. Dando um grande impulso a Magia, Alquimia e Astrologia.

Não podemos esquecer que a famosa biblioteca de Alexandria lá se localizava. Neoplatonismo, gnosticismo por sua vez são elementos importantes no hermetismo. O gnosticismo a grosso modo seria a busca do conhecimento, os gnósticos acreditavam que o universo emanou de uma fonte única, entre esta fonte única e os seres existem inúmeros “estágios”, presididos cada um por potências celestes. Este conhecimento “hermético” se manteve com o fim do império Romano do ocidente no império Romano do Oriente, com sede em Constantinopla. Com a queda de Constantinopla (atual Istambul) muitos sábios fugiram para as republicas italianas, especialmente Florença. Estas republicas eram grandes centros comerciais o que promovia amplo intercâmbio de culturas. Não é por acaso que na Academia Medici em Florença ouve um enorme interesse pelo hermetismo e resgate do saber clássico. Isso teve como palco o Renascimento.

Os princípios hermeticos são:

1 – O PRINCÍPIO DO MENTALISMO,

2 – O PRINCÍPIO DA CORRESPONDÊNCIA,

3 – O PRINCÍPIO DA VIBRAÇÃO,

4 – O PRINCÍPIO DA POLARIDADE

5 – O PRINCÍPIO DO RITMO,

6 – O PRINCÍPIO DE CAUSA E EFEITO,

7 – O PRINCÍPIO DO GÊNERO

Tomando o sistema de correspondências como exemplo para os princípios hermeticos, uma de suas máximas é como é em cima é em baixo. Desta forma quando queremos usar as energias de Mercúrio usaremos a cor correspondente, o metal, o nome do deus, seu numero e assim sucessivamente. Tudo esta interligado, desta forma uma chuva de asteróides em Júpiter, afeta os sagitarianos (e não só eles). Estes ideais Renascentistas (e hermeticos) influíram profundamente no saber oculto ocidental do fim da idade media até os dias de hoje.

Autor Marcos Torrigo

Foto de Marcos Torrigo com os fundadores do Imagick

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